Escrevo
porque é assim que fujo do resto do mundo. Porque eu não sei gritar e dizer
palavras horriveis para ninguém. Escrevo porque é o que resta a alguém que não
sabe reagir aos golpes que leva. Escrevo porque a fala me parece muito rápida e
de fácil esquecimento. No entanto um texto pode durar anos e anos na memória de
alguém. Pode mudar uma vida.
A fala, ao menos a minha, acontece aos socos,
intercalada por pensamentos. Já a escrita é leve, é clara, é óbvia. É quase
como um tapa na cara, um “acorda para vida!”. Ela é capaz de desvendar alguém.
Não é que o dizer seja assim tão ruim, é que a palavra escrita tem o tempo
necessário para ser corrigida e raciocinada. Ela é a palavra a ser dita tomando
forma. Escrevo porque me parece mais simples. Não exige esforços das cordas
vocais e preocupações com a entonação. A pontuação dá o tom àquilo que se
escreve e cada um interpreta como quiser. Escrevo pois ainda acredito poder
alcançar mais corações do que minha voz jamais alcançaria. E o faço na
esperança de continuar viva dentro de cada sílaba minha, enquanto as palavras
ditas vão embora com o vento depois que os ouvintes partem.
Escrevo porque não
me cabe tanto sentimento e estes não me passam pela garganta. Escrevo porque
sobrei no mundo como Macabéa. E o mundo sobrou para ser descrito por mim.
Porque sempre senti necessidade de dividir e, desta forma, distribuo pedacinhos
meus por aí. Escrevo porque é a maneira que encontro de espalhar meus medos e
alegrias como grãos de pólen. Porque vivo de palavras e as palavras brotam de
mim.
___________Rio Doce